Ética na política e formação da consciência

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho
Matéria 435 - Edição de Domingo – 31/08/2014

Ética na política e formação da consciência

A Palavra de Deus nos relata que o Senhor chamou lideranças para libertar e governar o seu povo. Essas pessoas sentiam o peso desse chamado, mas encontravam em Deus a força para não recuar sobre seus compromissos. Moisés, sentindo-se impotente diante das forças da opressão, ouviu de Deus essas palavras: “Eu estarei contigo” (Ex. 3,12).

O sinal de estar no bom caminho era a adoração ao verdadeiro Deus e não aos ídolos. Não sabendo Moisés e Aarão o que falariam ao povo, Deus lhes assegurou: “Eu vos ensinarei o que deveis falar”.

Essas são duas atitudes exemplares para o político: buscar em Deus sua força e não se deixar seduzir por ídolos, tais como o dinheiro e o poder.

Outra decisão tomada por Moisés foi aceitar a colaboração de homens sábios e experimentados, que ajudassem o povo a se organizar (Dt 1,15). Na legislação dada pelo Senhor, os pobres, os órfãos e os estrangeiros tinham um lugar especial.

Jesus Cristo ensinou a seus discípulos que a atitude básica do cristão revestido de poder é a atitude de serviço, não de dominação e nem de busca do proveito pessoal. Ao perceber que os discípulos discutiam entre si sobre quem seria o maior no reino de Deus, Jesus lhes ensinou que maior é aquele que serve. “Os grandes governam oprimindo o povo. Entre vós não há de ser assim. Quem quiser fazer-se grande entre vós será vosso servidor” (Mt 20, 26).

A Igreja, em diferentes momentos históricos, traduziu os ensinamentos do Evangelho na sua Doutrina Social, base segura de uma ação política honesta e competente. Entre esses princípios doutrinais existe uma hierarquia. O primeiro deles fundamenta os demais: a dignidade da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus e a busca do bem comum. Isso importa na criação de condições básicas para que todas as pessoas e comunidades possam levar uma vida digna e solidária, superando todas as formas selvagens de competição. Há ainda o princípio da subsidiariedade, segundo o qual é preciso respeitar a autonomia relativa de cada nível de competência.

Ao político cabe conhecer e apoiar as iniciativas tomadas em nível de cada comunidade, região e setor, sem querer se apossar dessas iniciativas nem cooptar seus líderes.

Em sua primeira encíclica sobre o amor cristão, Bento XVI oferece orientações importantes para a ação política. Primeiro, a militância política é missão específica dos fiéis leigos, que não devem se furtar às suas obrigações nesse campo: “O dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é própria dos fiéis leigos. Estes, como cidadãos do Estado, são chamados a participar pessoalmente na vida pública, assumindo funções legislativas e administrativas que se destinam a promover orgânica e institucionalmente o bem comum” (DC 29).

A Igreja, enquanto instituição, não assume opções partidárias, mas empenha-se na luta geral pela justiça, ajudando a purificar a razão e a formar a consciência das pessoas: “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política nem deve pôr-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta política. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre requer renúncias também, não poderá firmar-se nem prosperar” (DC 28).

Em eleições anteriores, a CNBB exortou os fiéis a se engajarem com responsabilidade na ação política, orientando-os a exercerem o seu voto com discernimento. Tanto no documento 82, que fundamenta a nossa reflexão, como nas orientações de 2010 e 2014 a Igreja tem oferecido diretrizes que “contribuem para o exercício do voto consciente e responsável”. A parceria entre governo democraticamente eleito e a sociedade é fundamental para colocar o país no caminho da dignidade e respeitabilidade.

A hora é de exercício consciente da cidadania, de participação do processo eleitoral escolhendo pessoas que encarnem valores da ética e do compromisso com a sociedade; políticos “ficha-limpa” que não precisam de falsos recursos como o de “salvadores da pátria”.

A campanha eleitoral é oportunidade para empenho de todos na reflexão sobre o que precisa ser levado adiante com responsabilidade e o que deve ser modificado, em vista de um Projeto Nacional com participação popular. Por isso, incentivamos a que todos participem e expressem, através do voto ético, esclarecido e consciente, a sua cidadania nas próximas eleições, superando possíveis desencantos com a política, procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana. Em particular, encorajamos os leigos e as leigas da nossa Igreja a que assumam ativamente seu papel de cidadãos colaborando na construção de um País melhor para todos (CNBB 2010).

As orientações deste ano através da Mensagem da CNBB “Pensando o Brasil: desafios diante das Eleições 2014” visam conscientizar as pessoas sobre o voto com responsabilidade, ou seja, convocar os cidadãos para que se preparem conscientemente para o momento da eleição; que votem em pessoas que tenham princípios e valores e descubram os que se comprometem com a reforma política do país.

Precisamos de bons políticos, capazes de fazer as reformas necessárias para o desenvolvimento de Rondônia e de nosso país. Somente o voto consciente fará a grande diferença nos resultados das eleições. Por isso, nunca é demais lembrar que “o eleitor consciente deve conhecer o passado de seu candidato e averiguar se o discurso e a prática por ele apresentados se conformam aos valores da ética e do bem comum” (CNBB 2014).

É preciso também exercer a missão profética de todo cristão e manter uma atitude de fiscalização e vigilância. Diante de irregularidades, é necessário denunciar. O silêncio e a omissão também são responsáveis pela deterioração da democracia.

Vender o voto é crime e todo cidadão deve fiscalizar e denunciar: o serviço conhecido como ””Disque Denúncia Eleitoral” tem o apoio do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e recebe as denúncias de irregularidades e crimes eleitorais de qualquer parte do país (tel.0800-8810278).

Seu voto é precioso; valorize-o, pois é ele que decide a vida pública do nosso País e de nosso Estado. Ao analisar todos os critérios para votar em um candidato leve em conta a defesa da dignidade da pessoa e da vida em todas as suas manifestações desde a sua concepção até o seu fim natural com a morte; a defesa da família como primeiro lugar no qual a pessoa cresce e se realiza; a liberdade de Educação pela qual os pais têm o direito de educar os filhos segundo a visão da vida que eles julgam mais adequada; o princípio da solidariedade segundo o qual o Estado, as famílias e as pessoas devem ter uma particular atenção aos pobres, àqueles que são injustamente menos favorecidos e mais explorados; o princípio de subsidiariedade segundo o qual uma realidade maior, como a União, o Estado e o próprio Município, não devem impedir e substituir tudo aquilo que pode ser feito por uma realidade menor como as famílias e as agregações sociais intermediárias; o compromisso dos candidatos na construção da cultura da paz em todos os níveis, particularmente na educação, saúde e defesa da infância e adolescência.

Por fim, é indispensável o acompanhamento dos candidatos eleitos e o engajamento em prol de uma efetiva reforma política. Há sempre tempo para encontrarmos o rumo e nos colocarmos a caminho com esperança.

Nesta Semana Nacional de Luta pela Reforma Política Democrática, participemos da 16ª edição do Grito dos Excluídos, com o lema "Ocupar ruas e praças por liberdade e direitos”, sempre sublinhando o tema da "vida em primeiro lugar”. Duas Campanhas serão intensificadas nesta semana: A Coleta de Assinaturas pela aprovação do Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Reforma Política Democrática e Eleições Limpas e o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político.

Preparemo-nos para o “Debate sobre o valor do voto”, promovido pela Arquidiocese de Porto Velho, que vai acontecer no dia 12 de setembro, no auditório da Catedral, das 19 às 21h. Todos os segmentos da sociedade são convidados. Participem!

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